Numa altura em que tudo o que imaginamos como seguro à nossa volta ameaça ruir, quando ouvimos uma e outra vez as palavras "infectados", "mortes", "escolhas" e "catástrofe", o ânimo esmorece, o medo instala-se, o silêncio atordoa.
Não sei se por isso, a gentileza da Vera Fernandes, radialista sobejamente conhecida do programa das Manhãs da Comercial, em escrever um texto sobre a sua experiência como mãe e que estratégias conseguiu arranjar para combater o burnout, ainda me deixa mais sensibilizada. Sabem como é: pedimos a uma figura pública a ajuda para divulgar uma causa e obtemos uma resposta tão generosa que nem sabemos agradecer convenientemente.
O melhor que posso fazer é deixar aqui, sem tirar nem pôr, as suas palavras.
Há muita coisa que muda do primeiro para o segundo filho. Antes de nos aventurarmos neste maravilhoso e extremamente desafiante mundo da maternidade, damos por nós a sonhar, a tentar adivinhar como vai ser quando o bebé for para casa. Há que pôr todos os planos em prática custe o que custar. Tenho dois filhos: a Francisca de 4 anos e o Henrique que fez agora 1. Na primeira ronda, muito por causa da idade e inexperiência, lembro-me de achar que dormir era perder tempo. Tinha de fazer tudo, tratar da pequenina e aproveitar as longas sestas para controlar a casa que - como todas as exigentes fazem questão - tinha de estar absolutamente limpa e organizada. A bebé também tinha de se apresentar com ar de catálogo e eu tinha de olhar para o parto como um fim de semana inesquecível nos Lusíadas. Aprendi que podia estar bonita dia sim, dia não. Comecei a acalmar quando percebi que não conseguia pensar e ocasionalmente sentia-me profundamente infeliz. O cansaço extremo leva-nos a este estado.
Com o Henrique, comecei a delegar. Procurei ajuda, percebi que o bebé não tinha de estar todos os dias imaculado e a casa também não. Devagarinho. Aproveitando. Das duas vezes que voltei para casa a maternidade, tentei sair quase todos os dias. Visitava os meus pais diariamente, dava um passeio ao ar livre, tentei criar uma rotina simples para me obrigar a tomar banho e a sair. Aqui já se vai treinando as saídas de casa que inicialmente são mais complicadas.
Hoje em dia, tento organizar-me muito bem. Tenho uma rede de ajuda que me permite respirar. Acordo todos os dias às 5h30 e agora também trabalho aos Domingos. O que faço? Relaxo. Há dias em que consigo estar presente, outros não. Se eu estiver feliz, eles também vão estar. Sou um polvo que está sempre a trabalhar para que não lhes falte nada, mesmo quando não sou eu a fazer. Há que dizer como são as mãos da mãe e do pai para que, quem nos substitui quando não estamos presentes, saiba exatamente como é que se faz lá em casa.
É verdade que, às vezes, dou por mim a ser aquela mãe histérica que sempre pensei nunca vir a ser. E sabem que mais? Vai voltar a acontecer. Ninguém é perfeito. Os momentos bons, se forem muitos e intensos, não deixam que estes estraguem tudo. Ainda assim, posso estar aqui a falar da minha experiência, mas também acho que por mais que tentemos ajudar, há coisas que só se aprendem quando se passa por elas.