Cada vez mais os pais estão alerta para as dificuldades que os filhos apresentam. E, se por um lado não é difícil perceber que o filho poderá ter dificuldades na aquisição da linguagem (porque não compreende o que lhe é dito, porque tem 2 anos e não fala ou porque não se percebe o que ele diz…) e rapidamente se procura ajuda, com a alimentação não se passa o mesmo. E porquê? Porque apesar de ser um tema que suscita muitas dúvidas e receios, os pais irão sempre achar que são eles que estão a fazer algo errado. E aí começa o desespero, a ansiedade, o pânico, a desistência, a falta de paciência e o facilitismo, dando-se assim início a uma bola de neve sem fim à vista! Perguntas e desabafos como: “O meu bebé não quer comer”, “O meu filho só come papas e já devia comer sólidos”, “Não consigo dar nada ao meu filho sem ser leite”, “Recusa tudo à colher”…Enfim, um infindável número de questões que os pais/cuidadores nos levam às consultas e que tentamos sempre ajudar e até desmistificar algumas delas. Normalmente, em consequência destas dificuldades aparecem-nos pais muito ansiosos, dispostos a tudo para o que bebé/criança coma e que já leram milhares de artigos no Dr. Google sobre o assunto mas, de nada ajudou. Sabem porquê? Porque cada criança é um ser individual e não há receitas milagrosas!
Comer é uma ação que exige uma aprendizagem gradual (ninguém nasce a saber comer com uma colher certo?). E é nessa aprendizagem, que não é de todo igual para todas as crianças, que as competências vão sendo adquiridas de forma a serem cada vez mais complexas. Há sempre uma ansiedade “boa” por parte dos pais em iniciar a diversificação alimentar por volta, normalmente, dos 6 meses.
Mas, e quando essa introdução do alimento à colher não corre como seria “expectável”?
O expectável é muito subjetivo. Calma e paciência são as palavras de ordem. No entanto, se a situação se arrastar ou se rapidamente verificarem que há algo errado como engasgos frequentes, dificuldades em ganhar peso, choro persistente durante a alimentação, resistência para ser alimentado, comer muito pouca variedade (seletividade), é fundamental procurar ajuda!
Numa 1ª consulta de Terapia da Fala serão avaliados vários aspetos como por exemplo: como decorreu a amamentação, a introdução alimentar, qual o reportório alimentar da criança, se apresenta alterações compatíveis com perfis sensoriais, se mastiga e de que forma, se rejeita tudo o que lhe é oferecido, se come apenas com distractores… enfim uma panóplia de questões que têm que ser realizadas para podermos assim ajustar a nossa intervenção.
E é para isso que nós, Terapeutas da Fala e toda uma equipa multidisciplinar como o médico pediatra, terapeuta ocupacional, psicólogo… aqui estamos. Mas, provavelmente estarão a perguntar: “Mas o que é que a Terapia da Fala tem de relação com a alimentação?”
Se pensarmos bem, utilizamos os mesmos músculos para sugarmos, mastigarmos e falarmos, certo? E é a partir daqui que tudo se interliga.
Por isso, o Terapeuta da Fala intervém na recusa e seletividade alimentar ajudando na adequação da sensibilidade intra e extra oral, na introdução gradual de novos alimentos, na promoção de uma boa mastigação, na adequação de texturas, na melhoria do comportamento durante as refeições…sendo o principal objetivo tornar as refeições em família prazerosas e harmoniosas!
Por fim, deixo algumas dicas que podem facilitar o momento da refeição:
- Calma e paciência;
- Criar um ambiente descontraído;
- Comer é um ato social por isso, comam sempre em família;
- Criar rotinas antes da refeição (por exemplo lavar as mãos, sentar na cadeira de alimentação, colocar o babete… no fundo o que vos fizer sentido de forma a que o bebé/criança consiga prever o que vai acontecer);
- Nunca obrigar o bebé a comer;
- Deixar que o bebé sinta a textura dos alimentos com as mãos e deixar que ele leve à boca;
- Promover algumas brincadeiras com os alimentos para estimular os sistemas sensoriais;
- Se o bebé recusar um alimento que o está a incomodar não insista.
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Com a colaboração da Ana Sofia Cunha, Terapeuta da Fala