É certo que a primavera finalmente chegou, no entanto, o ritmo das infecções respiratórias nas crianças não parece ter abrandado nem um bocadinho.
Entre a febre, a obstrução nasal e o ranho, é certo que a tosse tem de marcar a sua presença.
Por definição, falamos de vários tipos de tosse:
A tosse irritativa:
Quando a tosse se manifesta por acessos, inicialmente com a mobilização de algum muco, fluido, mas frequentemente acompanhada de sensação de comichão ou irritação na garganta. O exemplo mais perfeito é o da tosse nocturna dos miúdos: durante o dia, têm o nariz permanentemente a pingar. Assim que se deitam, porque o muco escorre pela parte detrás do nariz, para a garganta, têm necessidade de ir tossindo por acessos durante a noite.
A tosse produtiva:
mais cavernosa, com libertação de muco, mais comum quando as infecções respiratórias se localizam na traqueia, brônquios ou mesmo nos alveolos pulmonares (a vulgar pneumonia). Um exemplo clássico é a tosse dos fumadores pela manhã: durante a noite foram-se acumulando rolhões de muco provocados pelo fumo do tabaco, que serão mobilizados assim que o fumador acordar. Quem já ouviu um fumador a tossir, não se esquece.
Depois existem alguns tipos de tosse mais específicas, como uma tosse rouca semelhante ao ruído de uma foca, que atribuimos aos processos infecciosos da laringe (daí ser relativamente fácil estabelecer o diagnóstico de laringite aguda, porque basta ouvir a criança tossir) ou a tosse acessual, convulsa, específica da infecção por Bordetella Pertussis. Esta tosse, não sendo obviamente um marcador sensível da doença, é bastante específica: a criança tosse em acessos violentos e, no intervalo, emite um guincho característico, para conseguir voltar a tossir. Felizmente, dispomos de vacina contra a tosse convulsa!
E para que serve a tosse, afinal?
Sabiam que quando um doente está gravemente comprometido do ponto de vista neurológico, perde o reflexo da tosse? E que essa ausência de reflexo, é um sinal muito, mas muito ominoso?
A tosse não é nada mais nada menos que um mecanismo de defesa de todo o aparelho respiratório, para expelir rápida e eficazmente, qualquer ameaça! Mesmo aquela tosse irritativa, tem o seu papel! Permite proteger a laringe e a entrada das cordas vocais, do muco proveniente do nariz.
No entanto, há esta crença generalizada que a tosse em si, é sinal de doença, quando mais não é do que um mecanismo de defesa reflexa incrível!
Tossir faz bem, e nas crianças saudáveis recomenda-se! Limpa o aparelho respiratório e previne que tenham infecções mais graves.
Depois de tudo o que eu expliquei, será que queremos realmente TRATAR a tosse?
A verdade é que, embora a maioria das tosses sejam passageiras, a necessidade de tratar a tosse acaba por ser transversal a todas as sociedades. Prova disso é o número de mezinhas caseiras e xaropes para a tosse que se vendem sem receita médica!
Em relação às mezinhas caseiras: entre o xarope de cenoura, o xarope de mel com limão ou a cebola cortada ao meio no quarto, a verdade, é que nenhuma destas estratégias têm eficácia comprovada, mesmo que jurem a pé juntos que não há nada melhor que a receita infalível da vossa tetravó Emília para resolver todos os tipos de tosse (pontos extra se a avó Emília usava uma bebida destilada na preparação!).
Em relação aos xaropes que se vendem em farmácias e parafarmácias, as estratégias são muitas e muito diferentes!
Xaropes mucolíticos
Ambroxol, bromexina, acetilcisteína - (exemplo Bisolvon, broncoliber): vão actuar no muco, tornando-o mais fluido e fácil de eliminar. Serão úteis apenas na tosse produtiva! Obviamente que ao aumentar a produção de muco, ainda que mais fluido, vão inicialmente, aumentar a tosse!
Xaropes anti-inflamatórios
(exemplos Grintuss ou oxolamina ): têm frequentemente substancias que actuam nas terminações nervosas nas vias respiratórias. No caso do Grintuss, usa mel pasteurizado na sua composição, bem como alguns extratos de plantas com conhecido efeito calmante. No caso da oxolamina, sabe-se que tem um efeito anti-inflamatório na mucosa. Existem a pensar nas tosses irritativas, mas de eficácia difícil de prever. Não devem ser usados mais do que 5 dias.
Xaropes Antitússicos
(exemplos Bisoltussin) - suprimem o reflexo da tosse. O exemplo clássico é o uso do Dextrometorfano, que é um opióide sem acção analgésica. Não são globalmente recomendados pelos pediatras, embora possam ter um papel em situações muito, muito limitadas.