Aproveito a semana do Halloween, Samhain, Todos os Santos para falar de medo. Medo como uma emoção humana básica, primordial e extremamente protectora. Nós, os adultos, temos naturalmente medos: medo da doença, da morte, do sofrimento ou de outras coisas que vos apoquentem. Tudo medos, aos nossos olhos, perfeitamente justificados, acertados mesmo. Mas os medos das crianças são outros e nós, adultos como somos, classificamos os medos das crianças como disparatados, infundados, pequenos. São medos naturais e nós, pais preocupados, apressamos-nos a fazer duas coisas: mostrar aos nossos filhos que os seus medos são infundados ou fazermos de tudo para os proteger dos próprios medos.
A questão que levanto é simples: será que o devemos fazer?
Os medos mais frequentes na infância são o medo de ficar sozinhos, medo do escuro, medo de animais (cães, gatos, insectos), medo das alturas, medo das consultas com o médico/ vacinas e o medo de monstros imaginários.
Lembrem-se que nós, adultos, também já tivemos estes medos, mas aprendemos a regular a intensidade da nossa emoção. Agora só temos uma vaga indisposição com aranhas e ficamos um pouco ansiosos com as visitas ao médico. Mas este ajuste que aprendemos a fazer, esta regulação da nossa ansiedade face ao objecto de medo, é algo que temos que deixar que os nossos filhos façam. Mas que façam sozinhos. Guiados e apoiados por nós, sempre, mas sozinhos.
Porque se intervirmos demasiado no processo, corremos seriamente o risco de potenciar os medos dos nossos filhos. Ora vejamos, qualquer diálogo deve começar pela validação das emoções do outro e como tal, temos que validar o medo dos nossos filhos, porque é real. No entanto, não podemos perder demasiado a validar o medo, ou dizermos que sentimos o mesmo, porque isso é permitir que o medo cresça. Temos que falar sobre o medo, perceber que aspectos do medo são particularmente mais evocativos e trabalhar com eles as estratégias necessárias para os conquistar.
Aspecto prático: o medo do escuro é precisamente o medo da escuridão? (podemos, neste caso, propor uma luz de presença que vamos gradualmente extinguir), é o medo de ficar sozinho? (podemos propôr ficar com eles até adormecerem, para depois, aos poucos, sairmos do quarto e deixar a porta aberta), é o medo das sombras que se formam no quarto e projectam monstros? (é tentar perceber concretamente que sombras são, como se formam e, se necessário, dar-lhes uma pequena lanterna para fazer desaparecer os supostos monstros).
Quando é que os medos são algo mais?
Não podemos colocar tudo no mesmo saco. Sempre que os medos são tantos e tão específicos que interferem com o quotidiano, ou provocam uma insónia difícil de combater, ou levam a que a criança tenha um sono perfeitamente desconexo e sofram de sonolência diurna, então, pode ser uma situação que mereça uma avaliação por um profissional de saúde mental. Os medos são frequentemente a expressão mais comum de uma ansiedade que tem de ser trabalhada.