Ao longo deste tempo que tenho tido convosco, fui recebendo alguns pedidos para falar sobre refluxo gastro-esofágico.
Admito que fui simplista na minha abordagem e, como profissional de saúde que sou, tendo a minimizar as queixas. Isto porquê? Porque o refluxo é algo absolutamente inerente à condição dos bebés!
Os bebés bebem líquidos (refluem com maior facilidade), passam o dia reclinados e não têm acção do esfíncter esofágico inferior. Estes factores em conjunto, criam aqui um problema!
Alguns bebés são muito bolsadores, sujam muita roupa ao longo do dia e parece que têm sempre queijo fresco na boca.
Outros bebés, podem até nem bolsar muito, mas ruminam! Passam o dia a mastigar em seco e a deglutir. Ou têm posturas mais rígidas, difíceis, porque se tentam proteger do refluxo. Estes bebés são muitas vezes classificados como tendo refluxo oculto. Sendo oculto ou não (não concordo assim tanto com esta classificação, porque não existe doença de refluxo oculto), a verdade é que são bebés incomodados.
E por fim, existem os bebés que choram, choram muito, choram o tempo inteiro. E é dentro dos bebés difíceis que se situam muitas vezes os grandes doentes de refluxo: porque ao chorar têm maior tensão abdominal e engolem mais ar, tudo condições que favorecem o refluxo.
Se é o refluxo que causa bebés irritáveis ou se são os bebés que são irritáveis que têm mais refluxo, é uma questão tão antiga como a do ovo e da galinha.
Mas sabemos bem que o refluxo, sobretudo nos primeiros 3 meses de vida, pode ser muito difícil de controlar e como tal, o bebé torna-se muito difícil de consolar. Se associarmos a estas dificuldades, o facto dos bebés, nesta fase, passarem naturalmente por alguma irritabilidade, então, temos um cocktail muito explosivo para a maioria das famílias.
Para as mães (e pais) que se debatem com um bebé com refluxo, o desafio consegue ser intenso! E o pior é sentirem que, na grande maioria, vão esbarrar com a indiferença dos profissionais de saúde (como eu).
Então, gostaria de vos dizer que o refluxo é fisiológico e que, na esmagadora maioria dos casos, deixa de ser um problema no final do primeiro ano de vida.
Que existem medidas farmacológicas que podem (ou não) ser eficazes mas que vale a pena experimentar. É o caso da domperidona, que tem um efeito procinético, acelerando o esvaziamento gástrico ou dos inibidores da secreção gástrica do estômago, que são particularmente úteis acima dos 6 meses, quando o estômago realmente já produz um suco ácido. Por isso é que frequentemente evita-se a utilização destes fármacos abaixo dos 6 meses.
Mas acima de tudo, quando os bebés são amamentados, não pensar em substituir o leite materno por fórmula anti-refluxo! Não só está contra-indicado, como é uma medida desesperada e sem sentido.
Existem formas de espessar o leite materno, sem o substituir! Exigem trabalho e cuidado, mas fazem-se!
Os leites anti-refluxo, curiosamente, reduzem os episódios de refluxo visível, mas isso não quer dizer que deixe de acontecer. E os bebés que se sentem muito incomodados com o refluxo, podem não sentir alívio com a utilização destas fórmulas.
Se as vossas dúvidas persistem, pode ser necessário avaliar a vossa situação e fazer um despiste de outras condições que podem manifestar-se com refluxo. Por isso, não deixem de falar com o vosso pediatra.