Desde o início de Abril, contabilizaram-se 169 casos de hepatite aguda não causada pelos habituais agentes infecciosos responsáveis por hepatite, em crianças entre 1 mês e os 16 anos.
A investigação em torno destes casos permitiu o isolamento de um Adenovírus F 41 em 74 casos, do SARS-Cov2 em 20 casos e da co-existência de SARS-Cov 2 e Adenovírus em 19 casos.
Porque é que eu escolhi NÃO falar sobre o assunto?
Porque estamos a falar de um número limitado de casos, num contexto desconhecido, que se não fosse o actual momento de hipervigilancia e valorização de TUDO, nunca chegaria ao conhecimento generalizado da população.
(nos próximos anos, iremos assistir a ondas sucessivas de novos surtos, de novas doenças, ampliadas e escrutinadas pela comunicação social)
Vamos falar de Adenovírus?
Existem mais de 50 tipos de adenovírus diferentes. É um vírus primariamente respiratório e transmite-se por contacto com as secreções (daí a importância das medidas de higiene respiratória). É responsável por um síndrome gripal, frequentemente associado a conjuntivite. No entanto, alguns tipos de adenovírus podem desencadear uma doença gastrointestinal, com náuseas, vómitos e diarreia e outros, uma infecção específica da bexiga (cistite hemorrágica).
Se sempre existiram adenovírus, porque é que AGORA estamos a detectar estes casos?
A verdade é que durante a fase de confinamento, os adenovírus tiveram níveis de detecção na população muito baixos (alguns países, como o Reino Unido, têm programas de vigilância epidemiológica destes vírus). E agora, com o desconfinamento, verificou-se uma actividade invulgarmente alta do grupo dos adenovírus, entre eles o F41.
Mas o Adenovírus F41 é novo?
Não, não é! E no passado sempre se associou a doença gastrointestinal muito ligeira. Causava náuseas, vómitos e diarreia, frequentemente sem febre. Existiam contudo já alguns relatos de hepatite aguda em crianças imunodeprimidas.
O que podemos fazer para prevenir um caso de hepatite aguda?
Na verdade, NADA.
Os adenovírus estão por todo o lado e o elo de ligação do Adenovírus F41 aos casos de hepatite aguda ainda é especulativo. Estão a decorrer esforços para identificar outros agentes e outros factores de risco.
No entanto, manter a higiene das mãos e as medidas de etiqueta respiratória parece-me apropriado.
Quando devo suspeitar de hepatite aguda?
A suspeita clínica de hepatite vai basear-se numa constelação de sinais difíceis de suspeitar para quem não é profissional de saúde.
No entanto, dor abdominal inespecífica, uma palpação abdominal que detecte um fígado aumentado, de bordo rombo, os olhos e a pele invulgarmente amarelos, são sintomas e sinais a considerar.
Nessas circunstâncias, fará todo o sentido contactar o seu médico assistente.